sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Quase


O amor nasce velho em qualquer coração;é fruto tardio de ancestralidades feridas,de descompassos hereditários,do choro antigo das várias gerações,resultado inebriantedessa magia de converter lágrimasnuma quase-cachaça.


Todo amor nasce marcadode lutas recentes, mas findas;soldado conhecedor de cada cantodo seu campo de batalha,dos requintes militares,dos artifícios bélicosda marcial arte de amar;discípulo virado em mestre,professor da triste ciênciade tornar sangue num quase-veneno.


Todo amor nasce maduro.Superada a longa seca,a intempérie,eis que surge indenecom a esperança perene de uma vida que é quase-renúncia.


Todo amor nasce morto,já vivido, já cantado,já doído, já amado.


Todo amor nasce duro,escudode ancião experimentado,que esconde um quase-meninoindefeso.Todo amor nasce quase;e se é todo, não o é.


Todo amor nasce pedraperpétua, e perdurana solidez de um silêncioque é quase confissão.




Anderson Piva

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